Doía como costumam doer as grandes decepções, mas aquela tinha algo de diferente. Porque ela é quem havia se decepcionado. Ela tinha jogado contra ela própria, achando que o teria no momento em que quisesse. “É um guri bobo. É só chamar que vem correndo”, pensava. E assim fez por várias vezes. Chamado atendido, ela recebia o afago que queria, divertia-se com o rabo abanando do seu cachorrinho e depois o botava para dormir do lado de fora. E a música ainda trepidava as caixas de som do seu veículo.
Doía como costumam doer os choros silenciosos, mas aquele tinha algo diferente. Porque o silêncio de suas lágrimas era rompido por um leve soluçar e pelo eco de seu próprio pensamento que gritava “Burra! Burra! Burra!” a cada lembrança de um bom momento vivido ao lado dele. Momentos que não se repetiriam mais. Porque agora ele havia achado um lar. Alguém que o queria de verdade. Alguém que não o via como um brinquedo para horas de monotonia.
Doía como costumam doer as despedidas inesperadas, mas aquela tinha algo diferente. Porque ela poderia tê-la evitado, mas não o fez. E agora sabia que não o veria de novo, mesmo após acabar a semana. E no carro, foi-se embora. Sem saber como não percebeu que ali estaria sua alegria, que ali poderia repousar seu futuro.


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